Fui lavar roupa na casa da minha mãe quando olhei pra cima e vi o sótão aberto. Subi... Há tanto tempo não entrava lá. Resolvi procurar um livro que li na terceira-série, mas não encontrei. Seria impossível em meio a tantos livros, caixas e trecos. Mas não saí de mãos vazias. Comecei a vasculhar e encontrei envelopes com desenhos na capa e várias provas e cadernos. E uma Redação Escolar de 1995, com proposta e tudo.
Proposta: Sonhar dormindo...
Sonhar acordado... Sonhar...
Todos nós sonhamos com alguma coisa
Conte-me um sonho seu...
Meu sonho com a estrela
Um dia cheguei da escola cansada e fui dormir.
Contei carneirinhos, tentei números. E finalmente dormi.
De repente, vi tudo escuro, só uma luz. Estava sonhando, pensei:
___Será que é a luz do quarto? Uma lanterna? Uma lua? Ou uma estrela? Quem é que está aí?
___ Sou eu.
___ Eu quem?
___ Uma estrela.
___ Estrelas falam?
___ Não sei. Mas eu falo.
___ Vamos brincar?
___ Vamos! De pique-esconde. Está com você.
Contei: um, dois, três, quatro, cinco, seis sete e:
___ Estou indo.
Procurei ela e não achei. Ela "se bateu".
Mas agora, ela tinha que ir embora.
De manhã, volto ao estudo e muito feliz.
Obs: Custei a me lembrar de que "se bateu" (única alteração que fiz no texto foi colocar essas aspas) refere-se diretamente à brincadeira de pique- esconde). Não me lembrava desse texto, mas gostei tanto da linguagem. Bem direta, bem dentro do universo de minha infância, bem simples. Como é bom ser criança! Como é bom ter um sótão na casa da mãe pra guardar certas lembranças. O que mais me fascina a respeito da palavra é esse poder: uma vez escrita, pode perdurar, quem sabe uma eternidade...
