topbella

12/04/2008

Sobre minhas mãos






Pequenas, com dedos magros e compridos. Brincadeira, não se trata disso! Mas por que alguém escreve sobre as mãos? Dê uma olhadinha:

Tenho um probleminha com minhas mãos. Digamos que é um problema que se manifesta em mim como a asma se manifesta nas pessoas de modo geral (só que sem a mesma gravidade). Transpiro nas mãos quando passo por fazes mais difíceis ou de mudança. Mas, até essa semana, nunca havia me lembrado quando começou.
Voltou a acontecer na Igreja, na hora de dar as mãos às pessoas e rezar o Pai- Nosso. Estava no altar porque sou ministra da Eucaristia, (um dia conto com mais detalhes), e dei a mão à Líder do Grupo de Jovens (que não existe mais). Minhas mãos estavam limpas, pois todos lavamos as mãos antes da comunhão.Mas, transpiravam, e a líder não hesitou em se sentir enojada, ajudando minhas inconvenientes mãozinhas a transpirarem ainda mais. Estava mal naquela manhã, pois há um bom tempo isso não acontecia.
A última crise constante aconteceu quando tirei minha carteira de motorista, há quase três anos. Agora minhas mãos transpiram quando vou dar aula, quando dirijo, quando faço coisas mega triviais. Já fiz tratamentos diversos, mas nada adiantou de fato. Parece bobagem, mas a sensação é de ter acabado de lavar a as mãos sem a menos secá-las. Será nojento como a Líder pensou?
Agora, o curioso é que, quando estava voltando pra casa ontem, lembrei-me da primeira vez que isso aconteceu em minha vida. Como pode? Nunca havia conseguido. Por coincidência foi na igreja também...
Tinha 4 anos e sentava lá na frente com outras crianças. Meus pais sempre me levaram à Igreja desde pequena, como forma de dar o exemplo, essas coisas que os pais se preocupam. Acho a religiosidade importante e penso que farei parecido com meus filhos, um dia. Claro que fé sem vivência nos torna ‘misseiros’ e não há dúvida nenhuma de que os filhos cobram isso de seus pais, sobretudo quando crescidinhos. Mas voltando ao assunto, uma prima minha, ficou falando que eu tinha que pegar o microfone da senhora do cântico e mandar um recado em agradecimento pela família. Eu, bobinha, mesmo com toda vergonha, achei que era pra fazer isso mesmo. De repente, no fim da missa eu fiz exatamente isso. Num surto corajoso, peguei o microfone no meio da música e comecei a falar quase gritando: “Senhor, agradecemos a nossa família!” e gritei o meu nome bem alto: “LLLLLÍIIIIVVVVVVVIIIIIAAAAAAA”! (nessa idade a gente não faz idéia de que não é necessário berrar no microfone).
Aquilo me rendeu um sermão surreal, daqueles de padre alterado, até a minha casa, como se eu tivesse cometido ‘o pecado dos pecados’. Meus pais sempre se preocuparam com ‘os outros’. Minhas mãos transpiraram naquele dia, assim que percebi que não era pra eu fazer aquilo. Hoje tenho certeza de alguém da diocese, naquele dia, deve ter achado bonitinho. É a espontaneidade das crianças, afinal estava agradecendo a família, não estava xingando. Não ousaria fazer nem uma coisa nem outra atualmente...
Não sei como me lembrei disso, mas quando minhas mãos transpiram, sinto como se não dominasse as situações. Como se eu estivesse sendo visada ou avaliada, ou até mesmo quando fico ansiosa. É o momento que sei que perdi o equilíbrio de minhas emoções e sentimentos. Daí, tento me lembrar de que todo mundo busca o equilíbrio, mas a vida é feita de provações, das mais variadas, e as dificuldades são demonstradas das mais diversas formas. Algumas pessoas mostram no semblante, nas atitudes, nas palavras (por vezes pesadas). Eu mostro em minhas mãos... Quando as pessoas olham pra mim, dificilmente conseguem perceber se estou bem ou não. Acho que fui perdendo essa espontaneidade... São poucas as pessoas que pegam nas mãos das outras. Exige esforço, exige cumplicidade...
Mas, acho que posso até ter orgulho disso, porque é o que não me torna apática, invencível, alheia as coisas externas. Afinal, uma hora elas secam... E quando elas secam normalmente eu passei na prova de motorista, na monografia, no seminário, ou os alunos fazem aquela carinha de: “Professora, a senhora já vai?”. Uma superação momentânea.... Como a vida deve ser...

07/04/2008

Os sofrimentos do jovem Werther


Ando meio sem tempo para atualizar o blog, mas tenho bastante novidades. As aulas da pós voltaram a ser 'aquelas'. Não perco um segundo da aula. Antes sempre ia ao banheiro regularmente, bebia água e batia longos papos com minha divertida amiga Grazi. Agora tenho um módulo de Lingüística com um professor genial! E agradeço ao bom Deus começar a compreender Saussure e Chomsky. O mais legal é que ele entende de tudo... muito! E adoro pessoas que entendem de várias ciências sem perder o senso de h2 (humor e humildade). Parabéns Sandro!


A história é que ele citou um romance alemão em uma aula chamado 'Os sofrimentos do jovem Werther' (como indica o título do post), traduzido como 'Werther' aqui no Brasil. Não me interessaria tanto se ele não dissesse que a obra marca o início do Romantismo e que vários jovens do século XVIII cometeram suicídio após a leitura da obra de Goethe.

Peguei o livro que, por um milagre, estava disponível na Biblioteca e o consumi naquela madrugada de sábado.Apesar de achar que Angelo Stefanovits deixou muita coisa 'de fora' em sua adaptação, fiquei satisfeita, afinal, não sei absolutamente nada em alemão e foi a primeira vez que lamentei isso.

O livro conta a história um jovem que muda para o campo e se apaixona por uma dama chamada Charlotte e retrata essa paixão não correspondida nas cartas que costumava mandar regularmente a seu melhor amigo Wilhelm. O narrador da história tece alguns comentários e mostra as cartas em ordem cronológica, de forma que o leitor pode compreender todo o enredo. O amor do personagem Werther não é correspondido por causa de uma terceira pessoa, Albert. O noivo de Charlotte.

O que mais gostei na obra, pessoalmente, foi a expiação de meus sentimentos com os dos personagens. Me senti Charlotte, Albert, Werther e o próprio amigo que recebe as cartas, tudo ao mesmo tempo.

Sou Charlotte quando assumo muitas responsabilidades, pelo sentimento maternal e por me confundir tanto em meus sentimentos. Sou Albert, um pouco distante e com dificuldades de expressar minhas emoções. Sou Werther porque tenho meus questionamentos e adoro refletir sobre as coisas, mesmo que não chegue às conclusões do senso comum. Sou o amigo que recebe cartas porque ouço muitas lamúrias, mas tenho dificuldade em conseguir convencer as pessoas a enxergar 'o outro lado'.

Enfim, as obras literárias revelam mais de nós mesmos do que supomos imaginar. E, falando nisso, ela trata de muitos aspectos que se tornaram realmente típicos à escrita romântica: adoração à natureza, oposição ao rigor classicista, morte por amor, idealismo utópico entre outras características do movimento. Alguns trechos traduzidos por Stefanovits:

"Pois você me conhece bem: já me viu transitar da prudência à temeridade, e da doce melancolia à paixão desmedida. Não é para menos, pois trato meu coração como se fosse uma criança doente, concedendo-lhe a satisfação de todos os seus caprichos.

"Convenci-me de que os mal-entendidos e a preguiça causam mais confusões no mundo do que a esperteza e a maldade. Estas últimas são com certeza mais raras".
"Os habitantes daqui são normais. Desgastam-se na maior parte do tempo para sobreviver e angustiam-se tanto nas horas de lazer que procuram reduzi-las ao mínimo."